Por que os bancos não querem mais pagamentos em real no exterior – e como isso afeta você

Algumas grandes lojas virtuais – como Amazon.com, Google Play, PlayStation Network e outras – oferecem seus produtos em real. E serviços como o PayPal permitem que você pague compras no exterior em real.

Mas se você paga com um cartão de crédito internacional, a transação pode ter custos adicionais, envolvendo câmbio e IOF. Isso acontece há tempos, mas só agora – em meio à alta do dólar – os bancos mudaram de prática.

Bradesco, Itaú e Santander, três dos cinco maiores bancos brasileiros, aderiram a uma orientação da Abecs e não aceitam mais pagamentos em real feitos no exterior, ou em lojas estrangeiras. O que isso significa? Como isso afeta você?

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Sem disfarce nem miopia

Por: Fernando Henrique Cardoso

As forças governistas, depois de precipitarem a campanha eleitoral, voltaram ao diapasão antigo: comparar os governos petistas com os do PSDB. Chega a ser doentio! Será que não sabem olhar para frente? As conjunturas mudam. O que é possível fazer em uma dada fase muitas vezes não pode ser feito em outra; políticas podem e devem ser aperfeiçoadas. Porém, na lógica infantil prevalecente, em lugar de se perguntar o que mudou no país em cada governo, em que direção e com qual velocidade, fazem-se comparações sem sentido e imagina-se que tudo começou do zero no primeiro dia do governo Lula.

Na cartilha de exaltação aos dez anos do PT no poder, com capa ao estilo realismo socialista e Dilma e Lula retratados como duas faces de uma mesma criatura, a história é reescrita para fazer as estatísticas falarem o que aos donos do poder interessa. Nada de novo sob o sol: é só lembrar dos museus soviéticos que borravam nas fotos os rostos dos ex-companheiros caídos em desgraça… O PSDB não deve entrar nesta armadilha. É melhor olhar para frente e deixar as picuinhas para quem gosta delas. Continue lendo “Sem disfarce nem miopia”

A ressurreição da CPMF

Quando se pensava que a famosa Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, popularmente conhecida como “imposto do cheque” estivesse definitivamente sepultada, eis que surge a notícia de que deputados ligados ao governo no Congresso defendem a recriação do tributo, mas agora com um novo nome: Contribuição Social para a Saúde, a CSS. A argumentação é a de sempre: taxar as operações financeiras e, com a arrecadação, atender a regulamentação da chamada “Emenda 29”, ou seja, a lei que disciplina todos gastos do poder público com a saúde. O que se compreende desse movimento inicial é que o governo e o legislativo, salvo uma imensa mobilização popular, vão aprovar a criação de mais um tributo. Assim, quem paga o pato, mais uma vez, é a nossa gente. A presidente Dilma Rousseff tem mantido um confortável silêncio sobre o assunto, mas está na lembrança de todos a sua promessa de campanha que não elevaria a já absurda carga de impostos. A realidade, entretanto, mostra que a classe política nacional prefere enfiar a mão no bolso do cidadão a restringir o seu esbanjamento de dinheiro. Ademais, os recentes episódios de corrupção revelam que recursos do tesouro foram desviados criminosamente – e contra isso não há o mesmo ímpeto dos parlamentares em tentar contê-los. A sociedade já tem opinião formada a respeito da ressurreição da CPMF: é contra e, se afrontada, vai reagir. Por isso, como aconselhava o saudoso arcebispo Dom Helder Câmara, “não brinquem com o povo”.

História

A razão de ser da CPMF sempre foi o atendimento à Saúde. O ex-ministro Adib Jatene, como pai da ideia, convenceu a Nação de sua necessidade. O governo FHC instituiu o tributo com alíquota de 0,2%.  De lá até o seu final, houve sucessivas prorrogações e aumentos (chegou a 0,38%), até que,  em 2007, o Senado derrubou o imposto, sob os protestos do então presidente Lula.

A verdade

A opinião popular de ser contra a Contribuição é definitiva, pois, quando em vigor, ela não melhorou em nada o atendimento aos pacientes. Estava tão ruim antes, quanto durante a cobrança e o é agora.

Fortuna

Sabidamente, o crescimento da receita brasileira é extraordinário. Este ano, em julho, a arrecadação já atingia 80% do que havia sido arrecadado no ano passado inteiro. De outro lado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) tem recebido substanciais reforços de caixa do tesouro para o fomento da economia.

Portanto…

Dinheiro há para a Saúde. Em dezembro de 2007, quando o Senado rejeitou a prorrogação da CPMF, o governo alertava para um rombo de R$ 40 bilhões no orçamento do ano seguinte, com impactos desastrosos para a Saúde. Um ano depois, a Receita Federal apresentava a arrecadação recorde de R$ 675,3 bilhões, R$ 43 bilhões a mais do que no ano anterior. Ou seja, a CPMF acabou e a arrecadação continuou subindo, graças ao crescimento da economia e à elevação das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O orçamento da Saúde, por sua vez, caiu logo após a extinção do imposto – de R$ 57 bilhões, em 2007, para R$ 52 bilhões em 2008. Mas voltou a subir nos anos seguintes, até chegar a R$ 77,1 bilhões neste ano. O que falta é aplicá-lo corretamente, uma vez que nada é tão prioritário quanto o setor. Enfim: as costas sobrecarregadas dos contribuintes não suportam nem um grama de aumento de peso. Os insaciáveis comandantes da Nação que se contenham. Ou o troco vem das urnas.

Marca Brasil necessita ser melhor cuidada, revela I-Group

Com Copa do Mundo e Olimpíadas já sacramentadas no calendário dos grandes eventos dessa década, o Brasil ganha, invariavelmente, um espaço destacado no imaginário popular global.

Afinal, será para essas terras tropicais, lar de Pelé, de Yemanjá e do Pão de Açúcar, berço de um crescimento econômico explosivo se comparado aos de outras regiões (mas modestíssimo se comparado ao potencial) e abrigo formal de uma natureza exuberante, que os olhos do mundo estarão voltados.

O mercado já começa a gritar, eufórico: pelos quatro cantos do país, a iniciativa privada já monta projetos diversos para atrair o investimento estrangeiro que, a cada ano que passa, aumenta em relevância.

O Brasil busca um tipo de integração global inédita em 5 séculos de história apostando justamente na imagem que o país já tem e almeja construir. Mas… isso é positivo?

Recentemente, o I-Group monitorou a marca “Brasil” em 8 diferentes regiões do mundo: Alemanha, Argentina, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, França e Itália. O objetivo: entender como os usuários de Internet desses países enxergam o Brasil para, a partir daí, concluir sobre a eficácia da construção da nossa imagem perante o mundo.

No total, foram analisadas 100 mil menções à palavra “Brasil” (e suas variações, como Brazil, Brésil etc.) no Twitter, Facebook e na blogosfera.

Conclusão 1: somos menos conhecidos do que acreditamos

Uma marca bem trabalhada do ponto de vista de comunicação teria um resultado positivo natural: ela seria “interpretada” de maneira minimamente semelhante entre os seus diferentes “observadores”. Pergunte a qualquer pessoa sobre marcas como Apple, Disney ou Harley Davidson, ou sobre países como França, Espanha ou China, e a probabilidade das respostas serem idênticas é bem alta. Sejam empresas ou países, o fato é que os responsáveis pelas suas imagens realizaram um trabalho consistente ao longo dos tempos, fazendo-os colher resultados invejáveis.

A França, por exemplo, recebe cerca de 74 milhões de turistas estrangeiros por ano; Espanha, 52 milhões; China, 51 milhões.

O levantamento feito nas mídias sociais sobre o Brasil buscou listar as imagens que mais saltam à mente do usuário estrangeiro quando se fala em nosso país. O resultado foi o seguinte:

  • Para o argentino, Brasil é sinônimo de: Futebol, Férias, Música
  • Para o espanhol, Brasil é sinônimo de: Festa, Futebol, Prostituição
  • Para o americano, Brasil é sinônimo de: Sexo, Luta, Religião
  • Para o francês, Brasil é sinônimo de: Música, Cultura, Futebol
  • Para o italiano, Brasil é sinônimo de: Futebol, Sexo, Praia
  • Para o português, Brasil é sinônimo de: Música, Criminalidade, Programação televisiva
  • Para o inglês, Brasil é sinônimo de: Pobreza, Futebol, Sexo
  • Para o alemão, Brasil é sinônimo de: Ecoturismo, Violência, Futebol

Ou seja: dependendo da origem do turista e exceto pelo tema “futebol”, o Brasil é visto de uma forma absolutamente fragmentada.

Em um ranking publicado pela Organização Mundial do Turismo, o Brasil aparece em 42o lugar, com 4,4 milhões de turistas estrangeiros por ano (atrás, por exemplo, de países como o Bahrein, Macau e Croácia).

A nossa pífia posição no ranking turístico não pode ser encarado como fruto de uma única causa – mas essa fragmentação de imagem é, certamente, uma delas.

Conclusão 2: nós não somos o paraíso

Se, independentemente da nossa fragmentação enquanto marca, tivéssemos uma imagem positiva, o problema seria menor. Ou seja: há muitos que podem argumentar que ser encarado como sinônimo de “sexo, luta e religião” por uns e “futebol, férias e música” por outros não é algo necessariamente ruim.

Todavia, esse estudo também analisou a polarização das menções sobre o país nas mídias sociais. Nesse quesito, o desempenho do Brasil foi, para dizer o mínimo, medíocre: 35% das menções foram carregadas de críticas negativas – um volume alto demais para uma região que deseja se tornar uma das potências turísticas do globo.

Conclusão 3: o maior agressor do Brasil é o brasileiro

Quando se analisa as menções feitas sobre o Brasil com uma lupa, conclui-se algo lamentável: a maior fonte de informação para os turistas estrangeiros é o próprio cidadão brasileiro – que é também quem mais fala mal do país.

Em qualquer fórum ou rede em que algum turista em potencial pergunta sobre o Brasil, há sempre um brasileiro pronto a responder que se trata de uma terra violenta, exalando uma miséria digna da Índia e com um hábito incontrolável de roubar todo e qualquer turista que ousar se aventurar por esse lado do planeta.

A sensação de orgulho que se nota, por exemplo, em um americano que fala de Nova York, em um Sul-Africano que fala de Cape Town ou em um Francês que fala de Paris, é percebida em quantidade ínfima.

Como não construir uma imagem de marca

A síntese dessa análise mostra um país que, sob os olhos de um estrangeiro, é odiado pelos seus próprios cidadãos, lar de problemas que, de longe, superam as qualidades e com uma personalidade que muda de acordo com o país de onde estiver o observador.

Do ponto de vista de comunicação, esse é um tipo de problema com o potencial de aniquilar todo e qualquer esforço de marketing externo feito tanto por órgãos de turismo quanto por agências de viagem – e que aponta para uma falha crucial que os governos brasileiros vem cometendo há décadas: ignorar que a principal vitrine do Brasil não é feito por praias, cartões postais ou verbas milionárias de mídia, mas pela sua própria população.

Afinal, não há exército que ganhe guerra se as suas próprias tropas não acreditarem e lutarem por ele.

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Receita do governo para resolver os problemas

O post abaixo foi retirado do Blog do Sakamoto

Pegue um problema. Pode ser qualquer um, apontado por qualquer ator social, seja um instituto de pesquisas do próprio governo, alguma organização da sociedade civil ou movimento social, entidade do setor empresarial, nação indígena, população de rua, fábrica de pirulito, o que seja.
 
Não lave, não corte, não destrinche, nem trisque. Coloque-o com casca e tudo em uma panela. Aí, duas opções, dependendo do gosto: ponha em banho-maria, sobre fogo brando, e vá cozinhando as poucos. Vire de vez em quando para mostrar que o prato não foi completamente abandonado. A segunda opção, se você não quiser gastar gás, é deixar descansar em uma travessa, dentro de uma caixa, colocada, por sua vez, em alguma gaveta. Se possível de uma mesa no depósito. Se alguém de sua equipe piar, mude o reclamão de setor. De repente, para cuidar do supracitado depósito.

Deixe o problema crescer.

Quando a sociedade chiar, é hora de tirar o problema de onde está e trazê-lo a público. Coloque uma pitada de “especialistas” que vão gastar meses para verificar a melhor forma de prepará-lo com o curto espaço de tempo que sobrou. Quando disserem que não dá mais para servir a solução do problema em tempo hábil e que faltou planejamento, culpe a burocracia ambiental, a falta sistêmica de recursos, a divina improvidência, séculos de dominação moura sob a Península Ibérica ou o último corte de cabelo do Justin Bieber, mas culpe algo. Diga que precisa comprar mais mais gente, ops, mais ingredientes para preparar o problema a tempo.

Acrescente um decreto para simplificar o licenciamento ambiental de empreendimentos de transmissão de energia elétrica no país (como revelado pelo Valor Econômico). Atribua ao bagre-albino-cego-que-joga-pôquer ou ao mico-leão-que-come-sucrilhos a demora. Não assuma, em nenhum momento, como bom cozinheiro que você é, que deixou passar o ponto, sendo o responsável por criar aquela situação.

Dê pitadas de discurso pronto, do gênero “se o decreto não for aprovado, os investimentos feitos até agora estarão perdidos”.

Se preferir, use duas colheres de chantagem. Mas tem que ser da boa, como “Olha, o Brasil deve escolher se preserva meia dúzia de silvícolas ou se quer crescimento e desenvolvimento” ou “O país precisa decidir se coloca comida na mesa de todos e acaba com a fome ou vai atender aos murmúrios de meia dúzia de sem-terra que ficam gritando de barriga cheia”.

Mexa bem.
 
Aqui vale a simplicidade. Quantos mais critérios socioambientais forem defenestrados, melhor. A receita fica mais gostosa ainda se você conseguir uma liminar para garantir obras sem audiências públicas e o apoio de setores sociais antes críticos a receitas feitas nas coxas.

Um ingrediente surpresa é culpar algum índio, quilombola, sindicato, trabalhador ou alguma organização social internacional pela falta de diálogo para a solução. Isso é receita de mãe, passada ao longo do tempo, sempre funciona para essas tipos de problemas. Mas se aceitarem conversar, desconverse. Afinal de contas, você já conhece a receita da política de fato consumado. Assobia e faz de conta que não é com você. Não ponha pimenta nunca.
 
Contrate serviços sem licitação, sob a justificativa de que não há mais tempo. Lembre-se que, quanto mais salgado os valores pagos a amigos, maior a chance de você ser reeleito cozinheiro.

Pronto. Sirva ainda quente.
 
Rende poucas porções. Mas o resto do pessoal, que ficou de fora do butim e pagou por tudo, não vai reclamar: ou terá comprado o discurso fajuto de “ou é isso ou seu ar condicionado para” ou estará desalojada, exilada em alguma favela de grande cidade.
 
Harmoniza bem com um Montrachet Domaine de la Romanée Conti 1978 que, pago com dinheiro público, tem um excelente buquê e um retrogosto que faz a diferença.