Superado pela Índia, Brasil é 10º maior produtor industrial do mundo

Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo

GENEBRA – O Brasil perde o posto de nono maior parque industrial do mundo. Dados divulgados pela ONU apontam que a Índia superou o Brasil em 2009 e o País caiu para a décima posição. No topo do ranking, a China supera pela primeira vez o Japão para se tornar o agora o segundo maior produtor de bens manufaturados do mundo.

A liderança é ainda dos Estados Unidos. Mas a economia americana está cada vez mais ameaçada nessa posição. No ano 2000, os americanos representam 26,6% da produção industrial do mundo, o ponto mais alto em 40 anos. Em outras palavras, a cada quatro produtos fabricados no planeta, um vinha dos Estados Unidos. Em 2000, o Japão era o segundo maior produtor. A China vinha apenas na quarta, com apenas 6,6% da produção mundial.


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A ONU não divulgou ainda os números absolutos da produção industrial no mundo em 2009 e o percentual é uma estimativa da participação de cada país. Mas, em 2007, o valor total da produção havia atingido US$ 6,7 trilhões. No ano seguinte, o valor chegou a US$ 6,81 trilhões. Em 2009, a produção industrial no mundo teria perdido 10% de suas atividades, segundo os dados da ONU.

“Mas a realidade é que o mapa mundial da produção industrial está em plena transformação”, afirmou Shyam Upadhyaya, diretor de estatísticas da Organização de Desenvolvimento Industrial da ONU. A participação americana começou a cair a partir de 2000 e essa tendência se acelerou diante da crise em 2009. Hoje, 18,9% da produção industrial mundial ocorre nos Estados Unidos.

Em dez anos, a China dobrou sua produção e já tem 15,6% da fabricação de manufaturas no planeta, contra 15,4% do Japão.

Alemanha, Reino Unido, França e Itália também estão em franca queda. Em 2000, os alemãos eram os terceiros maiores produtores, com 6,8% do mercado. Hoje, contam com 6,3%. Os ingleses caíram na quinta posição para a oitava posição.

Brasil

No caso da produção industrial brasileira, a ONU indica que no início da década o País representava 1,66% da manufatura mundial. Espanha, México e Canadá superavam o Brasil naquele momento e o País ocupava a 12ª posição. A partir de 2006, o País ganhou posições, chegando a ser o nono maior produtor de manufaturados e chegando a 1,89% da produção mundial.

Mas, em 2009, a crise atingiu de forma mais importante o Brasil que outros países emergentes. O resultado foi que a Índia conseguiu avançar de forma mais rápida e superou o Brasil no ranking. A Índia dobrou sua participação no mercado mundial em dez anos, subindo de 1,1% em 2000 para quase 2% no ano passado.

Em termos de regiões, a Ásia já se transformou na planta industrial do mundo, produzindo 44% de toda a fabricação do planeta. A Europa conta com 27%, contra 20,5% na América do Norte. A América Latina corresponde a apenas 6,1% da produção mundial, contra um insignificante 1,6% da África.

Os países emergentes hoje produzem 44% das manufaturas do planeta, contra 66% nos países ricos. Mas o Brasil vem perdendo espaço. O País representava 10% de toda a produção industrial das economias em desenvolvimento em 1995. Dez anos depois, caiu para 7,2%.

Real forte mostra sua outra face e segura inflação

Apesar da grita em relação ao câmbio – principalmente em função da perda de competitividade das exportações – o dólar baixo também tem efeitos positivos para a economia, especialmente sobre a inflação. De acordo com o índice CRB Alimentação, que reúne as cotações de commodities alimentícias na Bolsa de Chicago, os preços já subiram 23% em dólares de julho até a última terça-feira. Em reais, devido ao fortalecimento da moeda brasileira, a alta foi de 14%.
 
A economista do banco Santander Tatiana Pinheiro lembra que o grupo alimentação tem influência relevante nos principais indicadores de preços brasileiros.
 
No IPCA, referência para a fixação de metas de inflação, o grupo Alimentação e Bebidas representa 22,7% do cálculo. No IPC da Fundação Getúlio Vargas, os alimentos ficam coma segunda maior importância, de 28%. "O fato de o real estar se valorizando suaviza, sim, parte do efeito da alta do dólar sobre a inflação. Mas não é suficiente para segurar o índice", observa. Ela prevê IPCA de 0,44% em setembro, a ser divulgado hoje pelo IBGE, e de 5,5% em 2010.
 
O economista da FGV André Braz também enxerga um efeito positivo do fortalecimento do real sobre a inflação. Recentemente, um problema global na oferta do trigo fez os preços dispararem.
 
Na última medição do IPC, que ficou em0,46% em setembro, o trigo teve alta de 5,64%. "Se o dólar estivesse alto, teríamos que desembolsar mais reais para comprar quantidade igual. E teríamos dois efeitos ruins para a inflação: a menor oferta, que aumentou o preço em dólares, e a desvalorização do real", explica.
 
Outro benefício de um dólar mais fraco é o aumento das importações de bens de capital para a modernização da indústria. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (Abracex) estima que a idade média de máquinas e equipamentos no Brasil é 17 anos (ou seja, usam tecnologia de mais de duas décadas), bem acima da média mundial.
 
"Seria um bom momento para a gente se modernizar e conseguir produzir com menor custo e mais tecnologia", diz Roberto Segatti, presidente da entidade.
 
Ele critica o fato de o governo não incentivar essas importações: "Até setembro, o Brasil tinha importado US$ 25 bilhões em máquinas e equipamentos, que é um número interessante, mas a necessidade é bem maior.
 
Hoje, os tributos incidem sobre a a importação de equipamentos". O lado perverso do real valorizado é a redução da competitividade de produtos feitos no Brasil, que sofrem com o aumento das importações e se tornam mais caros para o comprador externo.
 
O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério Souza, lembra que o faturamento industrial caiu 0,3% em agosto.
 
"É pouco, mas se as vendas estão caindo, pode ser por conta de ajuste de estoques, mas também devido a um achatamento de preços devido à competição dos importados", observa. Em alguns setores, como têxtil e calçadista, os empresários já preferem importar o produto final. Em agosto, a produção industrial de bens de consumo semi e não duráveis caiu 0,8% frente a julho. Entre os destaques de queda estavam têxteis (0,7%), vestuário (-0,6%), calçados (2,5%) emadeira (-3,5%). "Você cria uma relação com fornecedores lá fora, toma financiamentos para importação e acaba criando uma rede que, se for cristalizada, representará maiores entraves para retomar a produção interna depois", diz.
 
Para o economista-chefe da LCA, Francisco Pessoa, o empresariado não se mobiliza por questões que vão além do câmbio.
 
"Os problemas de tributação e falta de infraestrutura estão aí há anos. Empresário também não gosta de juro alto. Mas se o dólar começasse a subir não seria possível baixar os juros porque teria impacto na inflação", diz. Com o juro alto, o ambiente continuaria favorável à arbitragem (atração de estrangeiros em busca da maior rentabilidade da Selic).
 
Parte do que sofremos nas exportações tem a ver com a política de não intervenção. É um discurso bom para economista neoliberal, mas na prática nenhum país cumpre. Outro problema é que as exportações brasileiras são essencialmente de produtos primários, as famosas commodities, com baixo valor agregado. Além disso, parece que os empresários brasileiros não são muito bons em atuação política.