Por que os bancos não querem mais pagamentos em real no exterior – e como isso afeta você

Algumas grandes lojas virtuais – como Amazon.com, Google Play, PlayStation Network e outras – oferecem seus produtos em real. E serviços como o PayPal permitem que você pague compras no exterior em real.

Mas se você paga com um cartão de crédito internacional, a transação pode ter custos adicionais, envolvendo câmbio e IOF. Isso acontece há tempos, mas só agora – em meio à alta do dólar – os bancos mudaram de prática.

Bradesco, Itaú e Santander, três dos cinco maiores bancos brasileiros, aderiram a uma orientação da Abecs e não aceitam mais pagamentos em real feitos no exterior, ou em lojas estrangeiras. O que isso significa? Como isso afeta você?

Quando o valor do débito lá fora é convertido imediatamente em reais, no ato da compra, pela cotação do dia da moeda norte-americana, se os preços do dólar subirem até o vencimento da fatura, são os bancos que arcam com a diferença, se eles não fazem a reconversão. Agora, com a divisa dos EUA em disparada, as operações em reais viraram sinônimo de prejuízo para as administradoras dos cartões.

A decisão de suspender as compras em reais no exterior partiu da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). Nenhum banco quer manter esse sistema diante da perspectiva de o dólar chegar aos R$ 2,70 até o fim do ano. “Se a moeda norte-americana continuar subindo, como tudo indica, o consumidor sai prejudicado.

É como se ele estivesse usando o dólar futuro nas compras internacionais em moeda estrangeira. Quando havia a possibilidade de conversão automática em real, se a divisa dos EUA subisse ou caísse, a responsabilidade era do banco. Agora, é da pessoa que compra lá fora”, explicou Samy Dana, professor da Escola de Economia de São Paulo (EESP-FGV). Para o educador financeiro Reinaldo Domingos, os emissores de cartão impuseram ao cliente “uma situação embaraçosa e sem escolha”.

Algumas lojas estrangeiras convertem valores para real…

Até então, alguns estabelecimentos no exterior – virtuais ou não – fazem conversão imediata do preço em reais. É o caso da PSN, Xbox Live, Google Play, Windows Phone Store e outros. Às vezes, a conversão é vantajosa: no Steam, por exemplo, você paga menos em reais do que em dólares. E ao pagar em reais, você deveria escapar do IOF, não?

… mas a transação pode ser cobrada em dólares no cartão…

Em alguns bancos – como o Itaú – se você pagar com cartão de crédito internacional, o preço em reais é convertido para dólares pela cotação do dia, e depois convertido de novo para reais usando a cotação no fechamento da fatura.

Por exemplo: você fez uma compra de R$ 100 numa loja estrangeira quando o dólar estava a R$ 2. Portanto, você será cobrado US$ 50 na fatura do cartão. Suponha que a cotação do dólar aumentou para R$ 2,50 no fechamento da fatura. Isso significa que você será cobrado US$ 50*2,50 = R$ 125.

Por sua vez, outras instituições – como o Banco do Brasil – parecem não fazer essa conversão. No entanto, como isto continua sendo uma transação internacional, há outro custo a se pagar…

… e você ainda paga IOF.

Toda compra com cartão de crédito fora do país é sujeita à cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), com alíquota de 6,38%, mesmo que o valor seja fixado em reais. Ou seja, na transação acima, o valor total da transação será de R$ 132,97.

E se o banco não reconverter os valores? Bem, sua transação ainda terá um valor diferente do esperado: a compra custará R$ 106,38 por causa do imposto.

Através desse mecanismo, que os bancos não deixam claro para você, uma compra de R$ 100 pode custar bem mais do que isso.

Clientes se revoltaram, então a Abecs e os bancos reagiram…

A Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), entidade que representa o segmento de cartões, disse em nota que essa discrepância nos valores “nem sempre é passada claramente pelos estabelecimentos aos consumidores, o que tem gerado algumas reclamações em órgãos defesa do consumidor e no Banco Central”.

Diante das reclamações, a Abecs emitiu uma orientação aos bancos: parem de aceitar transações no exterior feitas em reais.

… por isso, em lojas e sites estrangeiros, você só poderá pagar em moeda estrangeira – não em real.

É bom ter em mente que você poderá usar seu cartão de crédito internacional para compras no exterior. Você pode pagar em dólares, euros, rublos, ienes, o que for. A medida afeta apenas compras feitas em real; transações em moeda estrangeira não são afetadas.

O Itaú informou seus clientes que, a partir de 30 de setembro, vai rejeitar transações feitas no exterior em moeda nacional, ”somente podendo ser efetuadas na moeda estrangeira”. O Bradesco, por sua vez, diz que “transações realizadas no exterior diretamente em real não serão mais aprovadas” a partir de setembro. O Santander também aderiu à prática.

Por sua vez, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil dizem que estão considerando adotar a orientação. Em nota, o BB diz que “apoia a iniciativa da Abecs… e está analisando eventuais medidas que poderão ser tomadas”.

A medida afeta lojas de apps para smartphone/tablet, que ainda não responderam à medida…

Na Windows Phone Store, os preços são sempre exibidos em reais, mas a cobrança não é nacional e incorre no IOF. A Microsoft diz que ainda busca uma alternativa:

… as transações realizadas com a Microsoft podem estar sujeitas a taxas bancárias, impostos adicionais ou serem recusadas… Estamos trabalhando ativamente para assegurar que nosso cliente continue a desfrutar dos produtos e serviços da Microsoft com o seu método de pagamento preferido.

Quanto ao Android, apps, livros e filmes sempre são cobrados em reais no Google Play. No entanto, a cobrança sempre é internacional. Pela nova regra, isso não será mais possível. A empresa diz ainda analisar o assunto.

Como a Apple cobra em dólares por seu conteúdo no iTunes, ela não é afetada pela medida; ou seja, você pode continuar usando cartão de crédito internacional com seu iPhone, iPad ou iPod Touch.

… mas algumas lojas já começaram a se adaptar…

As primeiras reações à medida vieram de lojas de games. A Sony diz em nota que a PS Store não permitirá mais compras em reais, porque trata-se de uma transação internacional. Na PSN, ela continuará cobrando em dólar. A Microsoft, por sua vez, diz que ainda está avaliando como reagirá à mudança na Xbox Live.

A Valve ainda não se pronunciou. Como aponta o Arena iG, a medida não afeta algumas transações do Steam: se você pagar por boleto, transferência bancária ou cartão nacional, vai pagar em reais usando o serviço Boa Compra, que é nacional.

No entanto, se você usar cartão de crédito internacional, a transação é feita em reais… mas é internacional. O Steam não poderá mais fazer isso; no entanto, a opção de pagar com cartão internacional ainda aparece no sistema.

… e você precisará se adaptar também.

Lojas como a Amazon.com oferecem, através do Currency Converter, a opção de pagar sua compra em reais. Não use esta opção, ou o pagamento poderá ser recusado pelo banco. Felizmente, você ainda pode pagar em dólares, como de costume.

Vale notar que a Amazon.com.br não é afetada pela medida: em comunicado a empresa diz que “as vendas de e-books na Amazon.com.br são feitas em reais pela subsidiária da Amazon no Brasil”.

O PayPal, por sua vez, é um dos principais afetados, mas é bom entender direito como isso vai acontecer. Você está fazendo pagamentos no exterior em dólar/euro/etc.? Então tudo bem! A medida dos bancos não afeta você.

Você está fazendo uma compra numa loja brasileira? Então tudo bem! A empresa explica que “os pagamentos com PayPal referentes a compras domésticas são processados no Brasil e continuarão podendo ser feitos em Reais, sem cobrança do IOF-câmbio”.

Você está fazendo pagamentos em real no exterior, ou em uma loja estrangeira? Oh oh. Aí há um problema. O PayPal avisa que, neste caso, “as compras poderão ser negadas pelo banco” e você terá que se adaptar:

Caso o cliente tenha interesse em continuar pagando suas transações internacionais em Reais com PayPal, temos recomendado a eles que adicionem um novo cartão de crédito internacional à conta PayPal que não seja emitido pelo Itaú, Bradesco ou Santander.

Isso não é exatamente uma solução, mas ei, a empresa lamenta que “a decisão de não autorizar a compra internacional em Reais foi tomada unilateralmente pelos bancos”.

De fato, a medida dos bancos veio apenas há alguns dias, e restou a grandes lojas estrangeiras – que pertencem à Sony, Microsoft, Google e outras – se apressarem para encontrar uma alternativa à cobrança em reais. Algumas ainda procuram uma alternativa.

Ou seja, mais uma vez o consumidor brasileiro enfrenta problemas por causa de uma cultura protecionista o desgoverno petista e seu ministro Guido Manteiga.

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